12.28.2011













Death is a crowd show, 2011
(Caveira 1)
Acrílico, gesso e plástico
22x15x18 cm




                                                                      Dead is a crowd show (pormenor)











 

OBRAS ///// 2011











                                                                                       Vanitas, 2011
                                                                                       Instalação, dimensões variáveis
                                                                                       Museu Arqueológico do Carmo
  



                                                                      Vanitas (pormenor)



Desde a Antiguidade Clássica que a noção de que todos estamos destinados a perecer, por mais extraordinárias que sejam as nossas vivências, está presente na arte.
No séc. XVII, o tema Vanitas: a consciencialização de uma das  principais tensões humanas, que resulta  da  vaidade  que temos nos nossos prazeres e conquistas em vida, de nada  nos valer para nos salvar da morte (noção primeiramente evidenciada no Livro de Eclesiastes  (1)), transformou-se numa moda entre os  círculos intelectuais da época.  No entanto, a arte começou  a reflectir estas preocupações  muito  antes  de  o  termo  Vanitas,  as  designar.   Recordem-se  por  exemplo  as representações  Memento Mori  (existentes desde pelo menos o séc. I)  e  as  representações  de Danças Macabras.
Julian Gallego, um historiador de arte espanhol, referiu que o que chamamos de Vanitas, deveria ser antes conhecido por “desenganos” (2). Esta interessante afirmação, ajuda,  só por si,  a entender que Vanitas, são obras que nos despertam para a consciencialização de que nada é eterno.
Nas pinturas sobre o tema,  no decorrer dos séculos XVII e XVII,  os símbolos característicos das Vanitas, podem ser genericamente agrupados da seguinte forma (3):
- Símbolos da vida activa,  do poder e do saber  (livros, instrumentos, dinheiro, objectos preciosos, documentos, coroas…);
- Símbolos  ligados  à  passagem  do  tempo  (relógios, ampulhetas,  bolhas de sabão,  rosas murchas,  
   ossos, velas, lamparinas, animais esquartejados, restos de comida…);
- Símbolos   de   associados   a   passatempos   e   frivolidades   (dados,  cartas de jogo,  instrumentos musicais, canecas de cerveja e cálices de vinho, cristais, espelhos, jóias…);
- Símbolos da vida do além (ramos de oliveira).
Ao contrário do que muitos pensam,  Vanitas enquanto tema continua a existir até hoje,  e surge com  forte  presença  na arte contemporânea.  Actualmente uma Vanitas não está mais dependente dos  símbolos  referidos:  libertou-se  destes  e  em  muitos casos a representação dos seus objectos próprios  transformou-se  na  exibição ou produção  desses  objectos em si mesmos.  No entanto  o mais relevante  neste  acontecimento é que as Vanitas contemporâneas, oferecerem hoje,  ao invés de  uma noção  castradora dos prazeres sensitivos,  uma  vontade de os usar em prol  do  anestesiar do receio da morte.
Se no que diz respeito aos séculos  XVII  e  XVIII  pudemos  recordar  artistas  como  Pieter Claesz, Simon  Luttichuys,  David  Bailly,  Pieter  Steenwyck,  Sébastien  Stoskopff  ou  Bartolomeo  Bettera, nos séculos  XX  e  XXI  é inevitável  recordar  obras  de  artistas como Damien Hirst,  Jeff Koons, Zoe
Leonard,  Garbriel  Orozco,  Jim  Hodges,  Félix  Gonzalez-Torres,  Sam  Taylor  Wood,  Nan  Goldin, Hannah Wilke, Louise Bourgeois, Pepe Espaliu ou Jana Sterbak, entre tantos outros.
A  preocupação  com a  finitude humana,  é algo que  nos é profundamente  intrínseco.  A tensão provocada  pelo  conhecimento  desse  facto,  é provavelmente  a única a  que nenhum  ser humano escapa,  e é portanto uma das mais pertinentes a  ser abordada numa obra de Arte Pública,  pois é universal. Está em plena e certa relação com qualquer espectador.
No trabalho plástico que apresentei no contexto do evento “O Chiado, a Baixa e a Esfera Pública”, interessou-me falar desta mesma inevitabilidade mortal, que tanto tem originado obras de arte, de literatura, peças de teatro ou composições musicais; mas desmistificando-a.
Importou-me falar de Vanitas.
Esta referida Vanitas, consiste na apresentação de uma mesa de festa, onde estão dispostos vários
alimentos  perecíveis,  dos  quais  são exemplo:  frutas,  bolos,  doces e flores. A mesa está ricamente decorada  e  faz  uso  dos  símbolos  já  referidos.  Pretende-se que,  enquanto  Vanitas,  osalimentos presentes na mesa, se deteriorem progressivamente, ao longo do tempo de exibição da peça.
Espera-se que o público se sinta visualmente seduzido pela obra, e que ao aproximar-se dela, num primeiro  momento,   pense  que  a  mesa  poderia  estar  à  sua   disposição  para   dela  e  dos  seus componentes  se  servir.  No  entanto,  num  segundo momento,  ao ser deparado  com o  estado de possível  decomposição  com  que será confrontado,  deseje afastar-se,  pela  repulsa que  tal estado provoca.  Esta  peça  criou  assim  esse  confronto  e  essa  tensão  entre a  sedução  que exercem os prazeres da vida (no caso, saborear diversos alimentos apetecíveis), e o apodrecimento, ou a morte, a que tudo e todos estamos sujeitos.
O cenário do  Convento do Carmo  revelou-se conceptualmente ideal. Estando a ser colocada em evidência  a  finitude  da  vida  (de qualquer forma de vida),  a  apresentação  entre  ruínas de pedra, antiga  estrutura de um edifício que se queria o mais duradouro possível,  reforçará a noção de que nada é eterno.  Nem mesmo as mais resistentes construções arquitectónicas escapam à destruição do tempo.

(1) Vanitas vanitatum et omnia vanitas (Vaidade das vaidades, tudo é vaidade), Eclesiastes 1:2     (2) Julain Gallego apud Luís Calheiros, in http://www.ipv.pt/millenium/pers13_4.htm (05/05/2011)     (3) Manuel Gantes in “Vanitas: A Memória do Tempo na Pintura”, p. 16 (Lisboa: Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, 2003. Tese de Mestrado em   Pintura, orientada por Professor Pedro Saraiva)
















                                                                      Scaring Death Away, 2011
                                                                      Acrílico sobre papel, 20x30cm (x8)




                                                                      Scaring Death Away (pormenor)



                                                                      Scaring Death Away (pormenor)



                                                                      Scaring Death Away (pormenor)